quinta-feira, 29 de abril de 2010

Ontem as bonitas ondas e as fortes correntes ensinaram-me que o Pai Mar é perigoso.
Perigoso, mas eu dele gosto na mesma.

Y

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Solidão adquirida, mais tarde posta de parte:

É chato isto de estar sozinho, aqui neste café de cadeiras vermelhas e mesas de madeira. Sozinho, numa mesa de esplanada, na esplanada claro. Não gosto de jantar fora debaixo de tectos suados, é estúpido e estranho.
Aqui estou a escrever, para vocês que me lêem, muito ou pouco, não interessa, e para mim. Faz calor e é noite densa. Está bom por aqui, muito bom até. O "até" é uma boa coisa.
Neste momento estou sozinho, porque quem poderia aqui estar não está agora.
Eu estou "desempregado" sem nada de especial para fazer, e quem de mim gosta pára agora em casa ou no estrangeiro.
É quase mau estar sozinho, mas cai-nos bem no estômago e na alma por vezes existirmos apenas nós, nós mesmos e o nosso interior.
Faz-me contente neste espaço de tempo, mas causa-me enjoos por antecipação.
Se gostava que por aqui, neste café que vive por baixo da noite e das nuvens, estivesse alguém comigo? Gostava sim, mas era diferente, não era mais o meu momento, seria de duas pessoas. Resolvi chutar a companhia para o cosmos, ou a companhia a mim me chutou para aqui sei lá eu. Pequeno ser.
Acho que nunca estamos sozinhos, em espírito pelo menos. Em corpo estamos muitas vezes até, corpo que vive e dorme quase sempre só. Tem graça.
Agora vou dobrar a folha, fechar o caderninho, dispensar a caneta, porque vem aí o meu hamburguer com cheiro a guacamole.
Água na boca. Tenho fome, e também a vou chutar para um sitio que eu cá sei.
Podem começar!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Ir...

Ainda fazia luz, mas já quase não existia sol.
Hoje alguém me pontapeou para dentro dos ouvidos e da cabeça uma enorme parafernália de moralismos, filosofias, questões e situações.
De olhos abertos eu ouvi atentamente. Escutava questões sobre o futuro e sobre a vida. Sobre um possível amanhã que talvez haja ou possa nascer.
Interiorizei e fiz-me entender no meio de todo o turbilhão de palavras e expressões. Não sei se serviu de muito ou nada.
Fiquei na mesma, mas com a cabeça mais cheia, com o pensamento mais recheado de problemas, daqueles que persistem em continuar cá, mesmo ao fim de muitas tentativas de branqueamento de ideias e escolhas.
Continuo confuso quando ao que quero ser ou ter. Não sei o que escolher, é nojento.
Quem me dera saber o que vou ser. Era tão mais simples e claro.
Posso ir para ali e não gostar, posso ir acoli e detestar, posso ir acolá e amar. Aqui é que está visto que não posso ficar.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

- "A roupa interior dos dois envolvida uma na outra, como eles." -




O chão seco, madeira envernizada. Com pegadas apaixonadas de suor e amor.
As calças amontoadas perto do leito. As camisolas sofridas atiradas contra a janela de cortinas fechadas para ninguém ver.
Os óculos dela esborrachados na mesinha de cabeceira "art-deco". O lenço que ele tinha ao pescoço amarfanhado, enrolado no pé do candeeiro de apoio ao amor. Azul marinho por sinal.
A roupa interior dos dois envolvida uma na outra, como eles. No chão, perto da porta, lá caída e deixada por ambos.
A cama desfeita e usada, coberta de amor e paixão.
Eles na banheira, cobertos de espuma, apenas com as cabeças de fora, aos beijos doces e suaves.

Foi assim o amor deles, naquele quarto amado pelo amor e por eles amado.

Na banheira despedem-se um do outro. Dando as mãos ensaboadas.

Que bonito, que bom, tão deles. Só deles.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O tempo é tão velho. O nosso amor tão novo.

Y

O tempo é tão velho.
O nosso amor tão novo.

Devia ser de antes.
Devia ter vindo mais cedo.

Estás a cansar-me o amor.
O coração, os olhos, tudo o que vejo em ti.

Estou farto de ti.
Mas não me farto do tempo.

Ele é tão velho.
Nós tão novos.

Não devia ser assim.

Ainda te amo.
Como será quando formos velhos como o tempo?

Sabes?

"Wierd"


Fico pasmado e pensativo quando oiço em algum lado : "amo-te tanto como quando no dia em que te conheci!"


O meu cérebro contrapõe-se de imediato pensando: Não é suposto uma pessoa amar mais a cada dia que passa? Se for como o que oiço, quer dizer que a coisa não passa da cepa torta. Não entendo, ajudem-me.


Evoluam seus corações estagnados. Não guardem o amor numa gaveta.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

- "A vida pode-nos sorrir se a fizermos rir" -

Pois é, a vida é injusta para quem dela não gosta, é similar ao amor, como já disse num texto meu anterior: "o amor gosta de nós se nós gostarmos dele".
Se andarmos deprimidos, tristes e com o pensamento a arrastar pelo chão, a vida não nos dá nada do que tem de melhor, nada nadinha. Passamos á ser só nós e... Nós. Sem mais nada nem ninguém.
Por isso temos de pensar SIM e dispensar o NÃO. Abominar o mal e amar o bem.
A vida pode-nos sorrir se a fizermos rir.
Toca a andar.
Toca a viver.
Toca a ser feliz.

Y

terça-feira, 20 de abril de 2010

- "até moscas moles de verão lhes voam por cima daquelas cabeças feitas de estrume..." -

-Olha tens o cromo número 31?
-Não, mas tenho o 32. Queres trocar?
-Sim.

Ás vezes sinto-me um cromo, no mau sentido da palavra. Por vezes sinto-me trocado.

É nojento. E as pessoas que o fazem mais nojentas são, até moscas moles de verão lhes voam por cima daquelas cabeças feitas de estrume...

"O mundo é um penico"

O mundo é tão grande e tão pequeno.

Conhecemos pessoas que nos conhecem a nós. Vemos pessoas que não conhecemos de remota parte alguma e uns minutos ou dias depois já sabemos quem elas são. Seja por ser amigo de infância do pai ou da mãe, vizinho da tia histérica que vive no Estoril á sombra das palmeiras, ou por ser um ex cliente da filha da prima que é cunhada do sogro de outrem.

E não é o mundo um penico? Está na cara!

Descobrimos gente, gentinha e gentalha de todas as partes. Gente que conhece quem também nos conhece. Bons amigos, namoradas, ex-mulheres, sei lá eu o que para aqui há.

É tanta gente num sitio tão pequeno que todos se acabam por cruzar. é fantástico.

E, com este texto tão superficial acho que não consegui mostrar o meu ponto de vista da coisa. Não foi fácil explicar.

Que graça. Conheço-te de algum lado?

segunda-feira, 19 de abril de 2010



♫♥☺ Oiçam-lá . Comigo . É perfeito...
Y

Ouiçam o barulho do silêncio. É o mais puro. É o de que mais gosto.

Ouiçam o barulho de uma boa cantora de jazz lendária. Que doce.

sábado, 17 de abril de 2010

"Amor incorrespondido é coisa do tempo de Inês de Castro"

O amor veio ter comigo, e eu dei-lhe um chuto no cu, porque não o quero.
Ele veio ter comigo, todo esperançado e confiante, e eu dei-lhe uma facada no peito.

Não quero sofrer por amar quem não quer.
Não me deixas ter quem quero, és injusto e desequilibrado.

Amor, por favor, faz-me amar alguém que eu consiga alcançar, de preferência alguém que goste também de mim.
Dá-me as duas metades da laranja, não sejas forreta. Meio sumo não serve, um sumo sabe bem, tão bem.

O amor que eu conheço é somítico, injusto, desequilibrado, e nunca meu.

E, ainda para mais, é incorrespondido. Não se admite. Amor incorrespondido é coisa do tempo de Inês de Castro, que usava vestidos pavorosos, compridos, cheios de pregas, folhos, pelissas, pompons, flores e flores-repolho! E nós não queremos isso.

Agora peço-te a sério. Dá-me o melhor de ti, o melhor dos dois. Não me dês só uma das partes, dá-me tudo. Quero um amor fácil, sem choro e dor.

Odeio este amor que me deste, tão reles.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Tu não me quiseste, mas gostaste de me ouvir.

Disse-te coisas lindas,
Os teus olhos incharam,
Bem como o teu orgulho que te passaram.

Herdaste o melhor e o pior,
Mas isso não interessa,
isso é só o que há a teu redor.

Gostaste do que ouviste,
Por mais pediste.
Não mais te dei,
O teu coração ficou roto.

O amor que sentia por ti,
ficou-se por ali.
O que querias de mim,
Não chegou ao pé de ti.

O meu amor acabou por ti.
A história acabou aqui.

Fim.

Ponto final.

Nem mais uma virgula.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Tenho tido saudades de uma palavra, vou tento saudades dela, estou farto de as ter, por isso eu a digo a mim mesmo : obrigado.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

mãe e filho:



- Mãe, acho que gosto de uma menina, ela tem cabelos loiros e grandes, tem uma cara bonita e uns olhos lindos.

- Como é que se chama?

- Não digo, tenho vergonha.

- Diz lá. A mãe não conta a ninguém. Prometo.

- Chama-se Joana, e é tão bonita.

- Gostas dela?

- O que é gostar? Não sei se gosto.

- Pensas muito nela? Gostavas de a ver mais vezes? De estar com ela mais vezes?

- Oh, não sei, eu vejo-a todos os dias, é da minha escola.

- Ah. Mas se ela não fosse da tua escola, se não a visses todos os dias, gostavas de a ver mais vezes?

- Não sei. Oh mãe, como eu a tenho sempre que quero não sei como será não ter, não é?

- Tens razão filho. A mãe acha que gostas dela. Aliás, muito dela!

- Oh mãe, tu achas?

- Sim filho.

- Oh, eu gosto dela. Que bom. Nunca gostei de ninguém, sem ser de ti mãe, mas tu não contas não é ?

- É. Eu sou mãe, é diferente. Todos os filhos gostam das mães.

- Pois. Gosto muito de ti mãe. E também gosto da Joana.
Mas pode se gostar de mais do que uma pessoa? Assim ao mesmo tempo?

- Claro que sim. O nosso coração é grande, muuuitooo grande, podes gostar do mundo inteiro. Podes gostar de quem gostar de ti, podes amar quem quiseres!

- Amar? O que é isso de amar?

- Deixa estar, a mãe explica-te amanhã. Agora dorme que amanhã tens aula de natação! Beijinhos filho, dorme bem. Amo-te.

- Ah, amas-me. Isso quer dizer que amar é o que as mães sentem pelos filhos não é?

- Sim, também é. É amar.

- Está bem mãe. Vou dormir e sonhar muito muito muito contigo e com o meu coração. Até amanhã.

- Até amanhã filho, apaga a luz, dorme bem.

Francisco H. M.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Chuva:

Não é tão estranho como o dia muda quando a chuva cai?
Não é épico quando a chuva nos faz pensar e repensar?
Não é tão tétrico quando chove e os nossos pensamentos se tornam mais cinzentos? menos claros?

Hoje está a chover, a água cai, há dias que não se passava isto. Há dias que do céu não caia nada senão sol quente e felizardo.

Fico dentro de casa a ver o tempo a mudar e as horas a passar. Penso no que virá e no que se passará mais tarde. A chuva rouba-me a alegria de sair, a alegria de pensar. Cansa-me a alma, gasta-me a bondade, farta-me a saudade.

Quando é que para de chover? Quando é que posso mais viver?
Quero sair daqui para ali. Quem me dera poder fugir sem parar de me rir.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O amor (outra vez):

Sabem lá estes dois o quanto o amor nos tem para dar enquanto vive dentro de dois peitos que se amam.

Amam-se muito mas não sabem amar sem discutir, amam-se mas não pensam em desistir da discussão, não sabem parar.
Quando estão juntos, pelo ar só voam palavras feias e fortes, com medo de aterrarem no chão frio. Estalos e empurrões candidatam-se á existência naquela guerra constante e estúpida.
Nem quando estão calados, ao lado um do outro ou á frente, se dão bem. Os olhares atiram-se de cabeça um ao outro, lutam como se não estivessem lá, os olhares esfaqueiam-se no meio do ar que os divide.
Só não discutem na cama, são estranhos, ninguém os percebe, nem eu que os descrevo sei o que ali se passa, o que aquilo é, o que aquilo pode ser.
O amor não pode ser só cama e prazer. Tem de haver mais do que isso, tem de existir conversa amiga, conversa sem ser de amor puro, conversa banal, informal, natural.
O amor não vive sem luta, mas também morre para quem lhe bate tanto. O amor é frágil e jovem, não o podemos mal tratar, não o podemos matar. Não o podemos matar quando é nosso, e não o conseguimos matar quando ele não está presente porque não o podemos apanhar. Não é palpável, é transparente e tão pouco versátil.
O amor só é uma coisa. O amor apenas é amor.

O amor é bom, quando dois o têm, quando dois o querem, quando dois o conseguem.

Não é preciso casar para haver amor. Não é preciso namorar para existir amor. Não é preciso sonhar para o amor viver. Não é preciso amar para haver amor, mas é preciso haver amor para se amar.

Gosto mais de ser amado do que gosto de amar. Amar é difícil, ser amado é tão fácil e ingénuo. Tão bom.

Francisco H. M.

domingo, 11 de abril de 2010

Bolso cheio de sonhos:

- Tenho um bolso cheio de sonhos, queres um?

- Quero. Posso tirar mais do que apenas o solitário um?

- Oh, assim não vai acontecer, não se vai realizar.

- Mas eu queria mais do que um só.

- Fazemos assim, eu tiro um por ti e para ti e, como eu te amo, vai sair deste bolso o sonho mais bonito de todos. Pode ser assim amor?

- Pode. Pode muito. Amo-te.

Obrigado por me dares um sonho dos teus, um beijo!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Para mim, o recordar:

E não é verdade que é tão bom recordar?
É tão bom, simplesmente tão bom, tão nosso e de alguém.

Tão bem nos sabe voltar atrás no tempo, para ir parar a algum lugar lindo, com alguém especial, com gente boa, corações moles.

Tão doce que é sentir-mo-nos distantes de onde estamos, para mais cedo retornarmos, para o antes irmos.

Rimo-nos tanto, é tanta a nostalgia, é tanto o entusiasmo. Não o é ele assim? Não o é assim o recordar? Recordar, realmente, é viver. Retornar ao que já aconteceu, ao que já se teve, ao que já se foi, ao que já aconteceu, ao que agora já não é.

E depois de recordar não sabe tão mal para onde estamos voltar? Não sabe tão pouco o tempo em que nos ausentámos?

Sabe tão mal voltar á realidade, sabe tão minusculamente assentar os pés nesta terra a que chamamos realidade e presente.

Como é tão bom, e como volta a ser tão mau.

É assim o recordar, para mim.

Uns minutos nas nuvens, no amor, na amizade. Tão bom, não foi?

E este sou eu, este eu que é tão terra-a-terra, a dizer estas coisas que por nós passaram tão alto e tão bem.

Francisco H. M.

terça-feira, 6 de abril de 2010

ele fala. ela geme e murmura . é quase um monólogo da parte dele .

- Discutem - murmura

Ele - Opah, mas o que é que tu queres?
Não percebo, não quero tentar perceber!
Explica-me tu!

Ela - Não...

Ele - Ahh, não explicas?
Eu pergunto então!

Ele - Queres um bocadinho de protagonismo?
Queres importância?
Queres o quê?

Ela - Oh...

Ele - Ah bem me parecia que era uma coisa do género.

Ele - Sempre queres atenção? Queres mesmo? Precisas disso?

Ele - Tu é que sabes.

Ele - Se tanto o queres, força.

Ele - Queres chamar a atenção?

Ela - Sim.

Ele - Então despe-te, é tão fácil querida. És uma porca.

Chorou, em vez de se despir vestiu o casaco, virou as costas, abriu a porta, saiu e bateu a porta com força e ódio crus.

love is like an ice cream :



NHAMMM . . .

Há sempre uma bolacha crocante ao inicio.
Há sempre um sólido sabor no começo.
Vai-se comendo e sabe tão bem ao inicio, mas quando dura muito tempo começa a ficar mole, desinteressante, derretido. Derretido não é bom.
Com o passar do tempo a crocante e brilhante bolacha fica borrachosa, cansada, usada. Fora de validade.
Tudo se torna desinteressante passado muito tempo, e acaba por ser deitado fora.
Um gelado passado não nos cai bem e, muito menos sabe bem, é deitado para o lixo. Acaba.
Um amor farto não nos quer bem, nem nós a ele. Um amor farto nunca acaba bem, acaba destruído, vazio de paixão, acaba por ser dispensado. Por nós deitado fora. Esbanjado.

BLHAC . . .

sábado, 3 de abril de 2010

MEMÓRIAS DE TI, MARINA:


Eu tinha amarguras da vida, eu tinha falta de amor porque só um tive, só um me abraçou, só um morou no meu peito, no meu coração.

Era novo e amava a marina, uma mulher pura e linda, com um rosto perfeito, bem, mais do que perfeito, eu amei aquela cara e aquelas sardas, todas, uma a uma.
Conheci-a no eléctrico, numa daquelas "carroças" amarelas que por Lisboa andava a passear almas.
Tinha acabado de sair de casa, ainda trazia bocadinhos de massa folhada do croissant que comera de manhã, acompanhado com uma boa malga de leite quente, sabiam sempre tão bem os dois juntos, que delícia.
Tinha acabado de entrar no eléctrico quando a vi, lá estava ela, do lado oposto por onde eu entrara, encostada ao vidro a olhar a rua cheia.
Naquela altura aproximei-me dela e pedi-lhe lume, queria fumar o meu primeiro cigarro do dia, e do isqueiro me esquecera em casa, em cima do aparador do Hall de entrada.
Ela olhou-me pelo cu do olho, assim de lado, como quem olha um mendigo. Aí, eu ria-me para mim mesmo, para os meus botões.
De mão estendida ela. Na sua mão estava um isqueiro lindo - duppond de ouro, que eu adorei - peguei-lhe com alma e acendi o pequeno cigarro.
Logo agradeci - Obrigado!
Pedi.lhe o número de telefone, achei-a linda, de mais bonita rapariga não me lembrava eu.
Hesitante e pensativa, Marina reflectia. Passados segundos longos disse-mo a mim, só a mim, ao ouvido.
Logo memorizei, não precisei de papel e caneta, começava por: 21. Ainda não existiam móveis como os de hoje.
O dia passou-se e dela não me consegui esquecer.
Cheguei a casa, a arfar, depois de subir a longa escadaria do prédio, era quase de noite. Peguei no auscultador do meu telefone antigo cor de marfim e liguei-lhe.
Ela atendeu.
Estou?
Sou eu, pedi-te lume no eléctrico, e tu deste-me. Lembras-te?
Sim, claro que sim.
Ah então? Como estás? O dia correu bem?
Sim, correu - disse ela com uma voz envergonhada.
Queres tomar um café?
Talvez dê, sim, pode ser, logo se vê, parece-me bem, mas não sei se dá, mas há.
Como? Estou confuso, decide-te! - disse eu friamente.
Pronto pronto! Sim, vamos tomar café então amanhã. Falamos logo pode ser? Dá para ti?
Perfeito, desde que contigo esteja serve sempre.
Só uma coisa, como é que te chamas?
Rui - disse eu esperançado, e com razão.
Rui, que bonito...
Hehe, bem até amanhã então...
Sim até amanhã, beijinhos.
Adeus marina, boa noite por aí.

A conversa acabou ali.
Eu estava apaixonado, sem a conhecer. Apenas a conhecia de vista, nada sabia sobre o seu coração ou alma. Mas logo pensei: Calma... Amanhã descubro o resto, ou parte dele.

Eu amava marina.

No dia seguinte, levantei-me, tomei banho, vesti-me, comi, pus o meu melhor e mais caro perfume, cheirava tão bem, e eu bem o sabia, era muito vaidoso, nem havia questão possível, cheirava lindamente ponto final. Eu era óptimo, o rapaz mais atraente e cavalheiro da zona. Não era muito namoradeiro, bastava-me uma, e só uma me bastou.

O café correu tão bem, eu cheirava tão bem, fiquei a conhecê-la tão mal, que desgraça. Eu queria marcar outro café para conhecer o resto que faltava da minha paixoneta Marina.

Liguei, liguei, liguei. Ninguém atendia. Nada ouvia se não um profundo e denso: piiii, piii, pii. Cansei-me, logo desisti, larguei a puta do telefone e fui para a cozinha devorar cigarros caros e copos de licor, bem forte.
Ela não me atendeu o telefone, logo pensei: Esta tipa não me quer mais ver! Não gostou de mim. Estou fodido...
Fui dormir, com os pulmões a chorar de tanto fumo. Só tossia, terrível: cof cofff!

Na manhã seguinte lá saí eu de casa outra vez, sempre a ouvir o chiar da porta de madeira do meu prédio, era um zumbido que ficava a bater nas paredes da minha cabeça durante horas e minutos, pressistente, irritante, quase cortante.

Entrei no mesmo eléctrico de sempre, sempre á mesma hora, sempre, todos os dias, todas as manhãs, todas as entradas naquele amarelo, sempre as mesmas, incensáveis vezes, chatas mas incontornáveis vezes.

Olhei para o fundo, onde marina estava da primeira vez, não lá estava, fechei os olhos e pensei: Estou lixado, ela desistiu de mim, decididamente.

Mais um dia de trabalho e tabagismo de passou diante de meus olhos vermelhos de tanto fumo e letras. Cansados estavam, podre o meu coração batia.

Cheguei a casa, abri a porta, depois dos mesmos degraus de sempre, estafado, mais do que antes. Entrei. Olhei para baixo, cabisbaixo, ego em baixo, tudo em baixo, mesmo tudo, até uma pobre carta. Tinha escrito em letras gordas: Para o Rui.

De imediato peguei naquele envelope branco e vazio de esperança, abri-o e nele estava deitado um papel comprido, todo dobradinho em forma de quadradinho.

O papel era longo e logo achei: É da marina! Tem de ser da marina! - disse-o com toda a certeza do mundo e aos gritos, até a vizinha ouviu, assustada a velha da frente veio á porta, rapidamente fechei a minha, não tinha a mínima paciência para a chata, cusca e incansável velha, porra...

Desdobrei o cuidadosamente dobrado papel, dizia: FUI-ME EMBORA, FUGI DAQUI, NÃO FUGI DE TI, ACHO QUE TE AMO, Marina.

Era assim que as letras se mostravam naquele papel, fiquei incrédulo, o coração caiu-me nas mãos, caiu-me nas mãos vindas de rua, o coração que eu queria dar a Marina estava-me nas mãos, o meu próprio coração.
Chorei, muito, imenso, fazia um rio no rosto, as lágrimas acumulavam-se no meu peito encharcando a gola da camisola de caxemira que eu vestia, era verde, linda.

Eu estava desesperado, perdido, logo percebi que tinha perdido a rapariga que seria a mulher da minha vida e da puta da minha morte...

E aqui estou hoje, sozinho com setenta e dois anos de idade, com muitas rugas sem nenhuma história de amor para além desta para contar. Estou sozinho com esta tanta idade, sem amor, hoje com tantas rugas, com tanto amor para dar, sem nenhum amor ter.

Foi só uma vez, só amei uma vez, nem sexo fiz, sou infeliz, aqui vou morrer, neste cadeirão que abana, para a frente e para trás, em frente ao televisor, a comer biscoitos de manteiga.

Não quero mais amar até morrer, e mais nada tenho para contar.

Amem muito meus jovens, chorem muito, dêem o vosso coração a quem puderem, a quem o merecer, a quem vos amar do fundo do amor.

Francisco H. M.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

P'RÁ SÔ-DONA MENTIRA:

"O dia das mentiras já passou, já se foi.

Por isso, pede-se aos mentirosos para fecharem a matraca, sim?

Ó p'ra eles! Seus trafulhas, malandrecos, bocas sujas! Guardanapinho para limparem as beiças, não?

Seus carinhas larocas, é que podiam mentir todos os dias menos no dia das mentiras, davam assim como que uma folgazinha á coisa, não?"

P.S. - Peço desculpa pelo registo bimbo da boubadela que aqui em cima se mostra, mas não podia falar da mentira usando um português correcto percebem? Espero que sim.

"São todos uns fofinhos, cá beijinhooo!"

quinta-feira, 1 de abril de 2010

(vómito) O MEU PAI E O BENFICA (risos) :

Isto tem muita graça.
Está a dar o jogo de futebol, Benfica versus Liverpool, e eu não ligo nenhuma ao "jogo da bola". Não me atrai, não me deixa ansioso, não me faz sair do emprego mais cedo do que o normal, não me faz jantar sanduiches mistas em frente ao televisor, não me faz chorar. Mas, sabem que mais, faz-me rir muito.
O meu pai não tira o cu do sofá enquanto aquilo não acaba, não descola, nem para fumar.
E eu, daqui do fundo da sala vejo. Ele fuma mais do que o normal porque o Benfica está a perder, ele come gelado de chocolate às colheres para matar os nervos, equiparando-se às mulheres histéricas que quando perdem a cabeça comem caixas e caixas de bom-bons em frente da televisão porque estão deprimidas.
Faz-me rir por dentro. Eu sou do Benfica, mas não sou benfiquista, percebem? Tem o ar da sua graça.
Eu gosto que o Benfica perca, deixa-me divertido. Se bem que quando ganha o meu pai se torna mais feliz, mas pronto, não tenho nada a ver com isso. Lamento.

Boa sorte Benfica e benfiquistas.

Acho o futebol um jogo "feio". Isto é, não é bonito, como o ténis por exemplo. Bem, do golfe nem se fala, é "cocó" de mais para o meu gosto.

E, só assim num pequeno interveniente e espontâneo aparte, o Benfica acabou de rematar ao poste da baliza adversária e eu ouvi um longínquo e profundo : "foda-se!"

É isto que tem piada. Por esta altura está um igual. Que chatice acabou-se a minha diversão...

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