sábado, 25 de setembro de 2010

Sonhos

Hoje, em sonhos, conheci um tigre sem riscas, que andava enrolado com uma leoa ás manchas.
Falei com um burro inteligente que era vizinho de uma gaivota sem penas.
Vi um crocodilo sem dentes cuja irmã era uma ovelha loira, loira de permanente recente.
Seguidamente acordei apenas querendo voltar a dormir.

Sem palavras.

Ela chegou-se perto de mim e não disse nada.
Chegou-se ao pé de mim sem uma palavra. Sem uma única palavra escondida na sua boca.
Eu não disse nada, a minha voz estava fria, tanto que não existia.
O meu pensamento estava quente, quente como a chaleira que assobiava longe, ao lume.
Dei-lhe um chá, para ver se ela tinha palavras.
Bebeu, logo me dirigiu um obrigado. Eu permaneci calado.
Sorri-lhe com o olhar, dei-lhe a mão.

domingo, 19 de setembro de 2010

Quando era pequeno pensava que a lua tinha dois lados e que era irmã do sol.

Rir.

Não quero chorar, não me apetece, nunca me apetece, fico todo vermelho e com mau ar.
Ás vezes faço coisas das quais me rio. Por vezes chega a altura dos outros as fazerem e eu rio-me na mesma. Algumas vezes rio-me de tudo, de outras vezes não me rio nada, de nada.
Quando faço coisas que despertam em mim algum certo tipo de piada, sorrio de mim próprio, e tem alguma graça.
Gosto de me rir sozinho, posso até gritar e rebolar nos tapetes cá de casa, ninguém vai ouvir ou julgar.
Gosto de me rir, rir do que se passa, passou ou vai passar. Não gosto de chorar, desidrata, não gosto de beber água. Tem piada. Estou-me a rir!
A sorrir de mim mesmo. Sou um tolo. Escrevo graças sobre piadas, e risos sobre solidão. Sorrio.
Li em algum lado que amanhã o amor vai acabar.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Amor cão...

Eles não sabem que o amor é uma prenda de ambos. A prenda mais simples e genuína de todas as que por ai há. Sem embrulhos, papéis, cartões, laços ou laçinhos. Tão simples.
Apenas dada um ao outro, não de mão beijada, mas de coração beijado.
Chegavam a casa juntos todas as tardes, depois do trabalho. Jantavam juntos todos os dias, Adormeciam no sofá ao mesmo tempo todas as noites. Aparentemente o casal perfeito, perfeita e completamente apaixonado.
Casal sem rebentos, sem filhos, nada.
Só eles os dois e o cão. Um cão ruivo, pouco peludo, mas amável.
O cão não adormecia no sofá, o cão não chegava a casa ao mesmo tempo que os apaixonados donos, o cão não jantava junto deles. O cão era o menos amado, mas quem tinha mais amor para dar. Tinha o amor suficiente para dar e vender, sem preço, o que é um verdadeiro motivo de orgulho, principalmente no mundo cão.
O animal já estava velho, ainda assim tinha o mesmo coração.
O par de jarras amado tornou-se demasiado egoísta, excessivamente narcisista, altamente egocentrista. Deixaram o amor que tinham pelo seu amigo peludo de parte, a entristecer, a ser vitima da erosão da vida.
De desgosto e infelicidade o cão iniciou a sua recta final na vida, começou a perder pelo, a deixar de comer, a deixar de andar, a deixar de ir apanhar o sol matinal de que tanto gostava para o quintal das traseiras. O pobre bicho estava a despedir-se, a começar a acenar, sem ninguém saber ou entender.
O casal preocupado, mas pouco. Nem o veterinário lhe pôs a vista em cima. Os donos não mexeram os seus corpos por amor ao seu animal, que tanto os continuava a amar, mesmo depois de tudo, por puro comodismo. O veterinário ficava a 100km . Os três viviam numa vila pequena, isolada do terror da cidade, no meio da paz do campo e seus cheiros alheios.
Num fim de tarde chuvoso o cão saiu de casa, saiu pelo jardim das traseiras, foi até ao pinhal, isolando-se. Deitou-se por de baixo de um pinheiro de copa grande, não apanhando chuva.
Isolou-se para que os seus donos não assistissem á sua partida, amava-os de mais, preferia que pensassem que tinha desaparecido para sempre do que que tinha morrido, também e obviamente para sempre.
Passavam-se horas e o par não sabia do seu cão, mal amado. Procurou na casa toda, não saiu de casa porque chovia a cântaros.
Desistiram e conseguiram sentar-se no sofá a ver um filme feliz e a comer pipocas sem qualquer remorso ou sentimento de perda.
Enquanto viviam, finalmente sozinhos, o cão ia perdendo a vida entre a terra húmida debaixo do pinheiro triste.
O amor cão morreu sozinho, ali, abandonado, sem ninguém saber dele.
E saber dele, só eu sei, porque ele por mim foi inventado, para vos contar esta história de amor mal partilhado.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Crónicas de uma insónia...


#1

Um corpo nunca vem só. Um abraço dá-se a alguém. Um beijo... guarda-se.

#2

Amanhã é outro dia, e tu? Vais estar viva? Amo-te.

#3

Era uma vez um ser humano, que morreu de tanto viver.

#4

E depois, depois do nada vem o não. A ausência de ti no sim. Depois tudo acaba, de repente como quando o vento vem, e dá-se o inicio do ultimo fim.

#5

Ouve. De lençóis é feita a cama. De paixões é feita a vida. Vem te deitar, acordada.

sábado, 4 de setembro de 2010

Diálogo

ela - Mal antrei em casa cheirei um perfume que não era o meu, nem o meu nem o teu. Não era o meu de pimenta, nem o teu de baunilha, nenhum dos nossos.
ele - Eu sei que não a devia ter trazido cá a casa, sei que não te devia ter traido, sei tudo. Mas mais do que isso tudo, sei que te sei de cor, e também sei que te amo.
ela - Não sabes o quento sofri, entrar em casa, ver-te sentado a mesa com outra mulher, de mãos dadas, pratos brancos com pétalas de rosas pirosas. Vê-la a comer com os talheres com que nós sempre comemos, a saliva dela onde não devia existir, o olhar dela em ti, em cima de ti.
ele - Não estava em mim, não fui eu, foi um refugio. Foi uma escapatória, uma solução!
ela - Uma solução? Traires-me foi solução? Melhor solução seria divorcio, antes de sequer teres tocado nessa mulher. Antes de sequer teres pensado em deixar de me amar, em trocares-me, em humilhares-me.
ele - Nunca a amei mais do que a ti, não, isso nunca.
ela - Mas amaste. Não foi assim? Amaste-a, nem que um bocadinho, amaste. E isso é o que me interessa, não quero só um bocado do teu amor, quero-o todo. Não quero partilhas de coração, foste um nojento.
ele - Perdoa-me, por favor!
ela - Não. Não consigo, não dá, tu não me deixas.
ele - Eu deixo-te!
ela - Não percebes, não entendes.

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