Enquanto fumava eu olhava. Via e deitava o meu olhar pouco ajoelhado sobre duas cadeiras sem ninguém nelas sentado, um relvado verde onde ninguém estava estendido ou feliz, ninguém lá parava. Uma grade branca protegia-me das gentes, uma grade sem vida, sem um único pequeno pássaro lá pousado.
Um arbusto em forma de buxo onde moravam folhas verdes-secas, nada secas, mas verde-secas. Via chão de tijoleira, chão velho, pisado, tão usado, gasto, onde os meus pés pisavam, por debaixo de uma mesa onde apoiava os cotovelos e escrevia, os meus pés tocavam um no outro, sem chocarem.
Era o que eu via. Mas não te via a ti, não lá estavas, nunca apareceste. Nunca chegaste a chegar. Era como se para sempre tivesses partido sem sequer existires. Sabes que mais? Ao menos não me lembro de ti, de tão pouco tempo que te tive nos olhos, não ficou nada. E tu nunca mais vais ouvir nada de mim. Nem jamais ouvirás falar sobre mim.
Aqui e assim me desligo de ti, morremos os dois, um para o outro, tal e qual, sem sequer nos olharmos.
Que dói, doí. Mas que nunca mais vou sofrer, também nunca. Porque te esqueci.
terça-feira, 29 de junho de 2010
domingo, 27 de junho de 2010
- "Havia sido uma puta para mim" -
Quase não conseguia olhar para ela, naquele seu jeito de ser, agressiva e nada serena, já nem lhe queria mandar um olhar. Eu na cadeira da varanda, a ver passar o tempo com o compasso de espera ás costas e ponteiros no bolso, a ver o clima mudar, nuvens a descer e o sol da aurora a subir.
Nem lhe queria falar, não queria que ela me ouvisse. Queria magoá-la, ferir-lhe o ego e o sentimento, queria que ela sangrasse por dentro, queria que lhe doesse tanto quanto a mim me doeu quando ela me traiu com um outro tal.
Havia de sofrer tanto quando eu, havia de penar na vida tanto quando eu.
Tinha de passar tal e qual pelo que eu passei e por onde eu passei, mas mais lentamente teria de ser, para lhe doer mais do que a mim. Só mais.
E eu frio fui para ela, com desprezo lhe passava o pão que estava longe dela na mesa de jantar, com raiva lhe enchia o copo vazio da água que bebera, com nojo lhe servia a refeição, nojo e remorso. Eram esses dois juntos.
E com um grande "V" de vingança eu a via, com um grande "V" de vingança eu vivia para com ela. Ela merecia, havia sido uma puta para mim, traiu e magoou.
E putas é o que não quero na minha vida. Cm raiva de despedi dela sem sequer lhe tocar, no ar desenhei um adeus com a mão a acenar, no meio dos dedos transpirava ódio.
E foi muito bem feito.
Nem lhe queria falar, não queria que ela me ouvisse. Queria magoá-la, ferir-lhe o ego e o sentimento, queria que ela sangrasse por dentro, queria que lhe doesse tanto quanto a mim me doeu quando ela me traiu com um outro tal.
Havia de sofrer tanto quando eu, havia de penar na vida tanto quando eu.
Tinha de passar tal e qual pelo que eu passei e por onde eu passei, mas mais lentamente teria de ser, para lhe doer mais do que a mim. Só mais.
E eu frio fui para ela, com desprezo lhe passava o pão que estava longe dela na mesa de jantar, com raiva lhe enchia o copo vazio da água que bebera, com nojo lhe servia a refeição, nojo e remorso. Eram esses dois juntos.
E com um grande "V" de vingança eu a via, com um grande "V" de vingança eu vivia para com ela. Ela merecia, havia sido uma puta para mim, traiu e magoou.
E putas é o que não quero na minha vida. Cm raiva de despedi dela sem sequer lhe tocar, no ar desenhei um adeus com a mão a acenar, no meio dos dedos transpirava ódio.
E foi muito bem feito.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
quarta-feira, 23 de junho de 2010
terça-feira, 22 de junho de 2010
Senhora
E era seda boa,
a do lenço da senhora.
De pele de cobra,
era feita a carteira.
De cetim velho,
o lenço que lhe servia.
Marca cara,
os óculos por onde via.
Por ali andava,
subia e descia.
Enquanto parava,
não arrancava.
Pose,
pose,
e mais uma pose.
Era para a camera que ela sorria,
para a camera que brilhava,
era á camera que a senhora se fazia.
Fazia,
nada vazia.
De baixo a cima,
de cima a baixo.
No meio das pernas,
as mãos juntas.
Ao lado da boca,
um sinal.
Ao lado dela,
ninguém.
Enquanto andava e parava,
rua a cima rua a baixo.
Todos a viam,
de olhos caídos no chão.
Olhos babados,
de caxemira foi feita esta canção.
a do lenço da senhora.
De pele de cobra,
era feita a carteira.
De cetim velho,
o lenço que lhe servia.
Marca cara,
os óculos por onde via.
Por ali andava,
subia e descia.
Enquanto parava,
não arrancava.
Pose,
pose,
e mais uma pose.
Era para a camera que ela sorria,
para a camera que brilhava,
era á camera que a senhora se fazia.
Fazia,
nada vazia.
De baixo a cima,
de cima a baixo.
No meio das pernas,
as mãos juntas.
Ao lado da boca,
um sinal.
Ao lado dela,
ninguém.
Enquanto andava e parava,
rua a cima rua a baixo.
Todos a viam,
de olhos caídos no chão.
Olhos babados,
de caxemira foi feita esta canção.
domingo, 20 de junho de 2010
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Ela e o seu só, tão sozinha.
E foi quando estive lá, era de noite, fazia frei ventoso e o rio olhava-me de baixo dos pés.
Vi uma casa, linda casa, amarela, com tantas janelas quantas há num palácio. Vi uma senhora, corcunda e velha senhora, a preparar-se para o dia seguinte. Senhora sozinha, fechou as cortinas e estores antigos da sala que tinha, apagou a luz e deitou-se e, dormiu, penso eu.
Enquanto ela dormia confortável eu não deixava nem um segundo de pensar em quem a amava. Em quem a amava mas era capaz de a deixar ali sozinha á noite, tão só quanto o mar sem peixe.
Tão só e talvez triste. A dormir sozinha, a viver só. Ela e o seu só. Sozinha.
Fez-me pensar e fumar um cigarro a olhar para as janelas fechadas da casa bonita. Pensei e repensei, a nenhuma conclusão cheguei, continuei sem perceber como é que quem a amava a deixava ali sem ninguém, a noite toda.
E doeu.
Meti-me no carro, dei á chave, fui para casa a pensar sobre o que tinha visto e sentido. Deitei-me sobre o que via naquela noite fria. A angustia foi maior do que o sono e não consegui dormir.
Vi uma casa, linda casa, amarela, com tantas janelas quantas há num palácio. Vi uma senhora, corcunda e velha senhora, a preparar-se para o dia seguinte. Senhora sozinha, fechou as cortinas e estores antigos da sala que tinha, apagou a luz e deitou-se e, dormiu, penso eu.
Enquanto ela dormia confortável eu não deixava nem um segundo de pensar em quem a amava. Em quem a amava mas era capaz de a deixar ali sozinha á noite, tão só quanto o mar sem peixe.
Tão só e talvez triste. A dormir sozinha, a viver só. Ela e o seu só. Sozinha.
Fez-me pensar e fumar um cigarro a olhar para as janelas fechadas da casa bonita. Pensei e repensei, a nenhuma conclusão cheguei, continuei sem perceber como é que quem a amava a deixava ali sem ninguém, a noite toda.
E doeu.
Meti-me no carro, dei á chave, fui para casa a pensar sobre o que tinha visto e sentido. Deitei-me sobre o que via naquela noite fria. A angustia foi maior do que o sono e não consegui dormir.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
-Gosto de quem ama do fundo-
E quando o amor aparece do meio da chuva? Do meio das árvores? Do meio de tudo?
Quando de repente nos lembramos que ele existe e nos rebenta um lóbulo. Quando precisamos de amar, inevitavelmente de amar alguém.
Procurar o amor não é difícil, encontrá-lo é mais do que isso.
E os que inventam o amor? Tenho pena. Amam sem conhecer, acho impossível. Amor á primeira vista? Eu não acredito. Piamente não consigo acreditar, nem de dar crédito sou capaz, porque o amor não o merece.
Mas apetece-me aplaudir quem ama de verdade, quem ama com o coração todo.
Gosto de quem ama do fundo.
Temos de esperar que o amor nos toque, e nos chame de longe, de perto não tem graça.
Quando de repente nos lembramos que ele existe e nos rebenta um lóbulo. Quando precisamos de amar, inevitavelmente de amar alguém.
Procurar o amor não é difícil, encontrá-lo é mais do que isso.
E os que inventam o amor? Tenho pena. Amam sem conhecer, acho impossível. Amor á primeira vista? Eu não acredito. Piamente não consigo acreditar, nem de dar crédito sou capaz, porque o amor não o merece.
Mas apetece-me aplaudir quem ama de verdade, quem ama com o coração todo.
Gosto de quem ama do fundo.
Temos de esperar que o amor nos toque, e nos chame de longe, de perto não tem graça.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Casa branca, casa preta.
Casa branca,
casa de branco.
Com duas janelas claras,
olhos claros.
Janelas aconchegadas por véus claros,
brancos talvez.
Casa virgem,
casa ainda por beijar.
Casa que anda por cima de dois pés pálidos,
pés a postos.
Casa belíssima,
casa toda branca.
No fim do dia,
de braço dado com a casa preta.
Casa preta de camisa branca e gravata preta,
casa sem laço.
Casa preta,
casa moderna.
Casa apaixonada.
Casas apaixonadas,
a branca e a preta.
Em amor.
No altar da igreja cinzenta,
uniram os corações.
Ali casaram,
trocando brilhantes anéis.
Bonitos.
Casas casadas.
Homem e Mulher felizes,
por amor.
casa de branco.
Com duas janelas claras,
olhos claros.
Janelas aconchegadas por véus claros,
brancos talvez.
Casa virgem,
casa ainda por beijar.
Casa que anda por cima de dois pés pálidos,
pés a postos.
Casa belíssima,
casa toda branca.
No fim do dia,
de braço dado com a casa preta.
Casa preta de camisa branca e gravata preta,
casa sem laço.
Casa preta,
casa moderna.
Casa apaixonada.
Casas apaixonadas,
a branca e a preta.
Em amor.
No altar da igreja cinzenta,
uniram os corações.
Ali casaram,
trocando brilhantes anéis.
Bonitos.
Casas casadas.
Homem e Mulher felizes,
por amor.
terça-feira, 8 de junho de 2010
segunda-feira, 7 de junho de 2010
sábado, 5 de junho de 2010
Traz as boas noticias para este lado.
Põe no bolso,
faz um rolinho e põe no bolso,
mete no bolso.
Agarra-as com força,
e enfia-as no bolso.
Tráz-me as boas noticias,
as melhores novidades,
as melhoras da vida.
Nesse teu bolso,
traz o que eu preciso,
livra-te do resto,
traz só o que eu desejo.
Quando chegares aqui,
cá,
perto de onde estou,
rouba do teu bolso o que tens para mim.
Estende-me a mão fechada,
em punho serrado,
firme.
Relaxa os dedos,
um a um,
espreguiça a tua palma,
e oferece-me o que apanhaste para mim,
nos ares e poeiras da cidade.
Espero que não tenham sido flores.
faz um rolinho e põe no bolso,
mete no bolso.
Agarra-as com força,
e enfia-as no bolso.
Tráz-me as boas noticias,
as melhores novidades,
as melhoras da vida.
Nesse teu bolso,
traz o que eu preciso,
livra-te do resto,
traz só o que eu desejo.
Quando chegares aqui,
cá,
perto de onde estou,
rouba do teu bolso o que tens para mim.
Estende-me a mão fechada,
em punho serrado,
firme.
Relaxa os dedos,
um a um,
espreguiça a tua palma,
e oferece-me o que apanhaste para mim,
nos ares e poeiras da cidade.
Espero que não tenham sido flores.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
O tal amor...
Para fazer sentir o amor que tinha,
dava tudo o que tinha,
fazia o que não podia.
Beijos soltos em vão,
mãos dadas ao corrimão,
amor perdido no acto.
Amor esbanjado,
gasto,
perdido,
demasiado dado e denunciado.
O amor não abençoado,
aquele que não pode ser ou existir.
O amor de quem ama o coração,
o de quem não mais pode dar,
o do qual não se consegue esquecer ou separar.
Fica a meio caminho,
meio gás,
meio amado.
Mal amado,
mal dado,
mal parido,
estragado.
O tal amor fora de data,
já quase desamado,
como o de quem pouco coração tem.
Difícil ser amado,
mais difícil é amar.
dava tudo o que tinha,
fazia o que não podia.
Beijos soltos em vão,
mãos dadas ao corrimão,
amor perdido no acto.
Amor esbanjado,
gasto,
perdido,
demasiado dado e denunciado.
O amor não abençoado,
aquele que não pode ser ou existir.
O amor de quem ama o coração,
o de quem não mais pode dar,
o do qual não se consegue esquecer ou separar.
Fica a meio caminho,
meio gás,
meio amado.
Mal amado,
mal dado,
mal parido,
estragado.
O tal amor fora de data,
já quase desamado,
como o de quem pouco coração tem.
Difícil ser amado,
mais difícil é amar.
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