segunda-feira, 8 de março de 2010

UMA FAMILIA, UMA CASA:

Dentro das mais do que banais e habituais quatro paredes de uma casa branca com janelas intimas de vidro escurecido e portas clássicas vive uma familia, uma familia de quatro pessoas independentes mas quase dependentes.
Uns estão já em casa enquanto outros ainda não entraram pela porta principal, alguns estão a chegar á esquina da rua enquanto outros estão já na sala a coçar o pensamento na cara mobilia de luxo.
Enquantos algum deles cozinha outro toma banho e outro pinta as unhas. Há mais um, que não se sabe onde está. Não se sabe se já aterrou no seu cantinho ou se ainda anda a voar pela bela rua.
Enquanto uns jantam outros amam-se e querem-se.
Enquanto uns choram outros riem e esticam os maxilares enferrujados.
Finalmente, enquanto todos estes fazem estas tantas tarefas tão pouco ou muito interessantes, alguém continua a não estar, a não fazer, a não ser, a não ter.
>Onde está o joão?
>Não sei, ele não saiu depois de almoço na sua bicicleta azul bébé e com os seus pontiagudos sapatos calçados desapertados?
>Não tenho noção disso. Não me passa pela memória, acho que nunca passou, nem sequer entrou.
>Onde é que ele estará? Não atende o telemóvel.
>Era o que mais faltava. Ainda por cima esqueceu-se dos pasteis de massa tenra que tinha para levar á tia Barbara que está de cama coitada.
>Pois ele não tem emenda. Amo-o mas odeio-o por isso também. Nunca aprende.
>Pois, tudo o que lhe interessa é ele mesmo, sempre foi esse o mal do joão, desde bem pequeno. Narcisista.
>Pobre avó que só queria estar na sua cadeira de baloiço sentada com o seu gato ao colo por cima da manta branca que sempre cobre a velha senhora, a ver as suas séries na televisão de domingo á tarde e a trincar uns pastéis com o maior do carinho que tem e sempre teve para dar a todos os que lhe rodeiam e tocam.
>E o joão nem isso foi capaz de fazer, não lhe levou os macios pastéis, parvo.
>Nem se deixou abençoar pelo carinho contagioso da velha senhora.
>Estou triste, ele nem parece meu filho. Não tem nada de meu. Ele não é bom.
>Há muito tempo que ando para te contar isto, mas tem-me faltado o ar e a coragem que nunca chega. Ele não é teu filho.
>Não?
>Não amor, não é.
>Eu não me lembro. Mas ainda bem.
>Como?
>Ainda bem. Já disse, ainda bem! Não quero que uma pessoa assim me pertença, não quero que seja meu.
>Não gosto disso. Odeio-te. És cruel e vazia, vai.te embora já e leva-me os tristes pastéis daqui! Não quero nem mais uma lembrança de ti aqui. Nem mais um beijo, nem mais um gesto! O unico gesto que quero que faças é o de abrir a porta da rua e saires daqui para sempre, até nunca.
>Está. Beijos. Odeio o teu filho, não mais meu, mas amo.te a ti para sempre.
>Não não amas porque eu mais não deixo que isso venha até mim. Não preciso disso nem de ti. Não existes. Nem nunca devias ter passado por aqui nem cá chegado. Vai-te já, sai daqui, corre para longe antes que eu te apanhe e mate. Já!!!
Choraram.

E acabou assim. O amor saiu pela porta da frente da bonita casa branca, e ali morreu sem mais ar.

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